Resultado do IPCA é o pior em 25 anos, enquanto o desemprego continua crescente: 14%. País tem agora 13,5 milhões de desempregados. Sem renda e com mercado em queda, o que será do Brasil em 2021? Guedes não parece se importar, enquanto o mercado reconhece que há um “sentimento inflacionário”. Saída para a crise é investimento público e fim do teto de gastos
23/10/2020 15h18
Carl de Souza
O ministro da Economia, Paulo Guedes
A ausência de uma política econômica que permita uma saída para a crise continua a ampliar seus efeitos na vida dos brasileiros. Nesta sexta-feira, 23, saiu o IPCA-15, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que leva em conta a cesta de produtos e serviços para famílias com rendimento de 1 a 40 salários mínimos em nove regiões metropolitanas, além de duas capitais (Brasília e Goiânia). O índice bateu em 0,94%. É o mais alto em 25 anos.
A façanha de Paulo Guedes é conseguir em apenas 20 meses o pior resultado da inflação para outubro desde 1995. Junto com Jair Bolsonaro, o ministro da Economia segue massacrando os mais pobres, pela combinação de inflação alta de alimentos e queda de renda com o fim da redução do auxílio emergencial e a alta do desemprego. Também nesta sexta, saiu outro dado que mostra o colosso de Guedes: o IBGE informou que a taxa de desemprego bateu recorde em setembro, chegando a 13,5 milhões de trabalhadores. Em maio, eram 10,1 milhões de desempregados. Um crescimento de 33%.
Presidenta nacional do PT, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PR), ironizou o ilusionismo de Guedes, que comemorou há alguns dias o feito de que o Brasil havia perdido apenas 1 milhão de postos de empregos desde o início da crise sanitária. “Foram 7,2 milhões de postos de trabalho perdidos em apenas 3 meses de pandemia. A população ocupada é a menor já registrada, com recorde do número de subutilizados e desalentados. E Guedes comemorou outro dia. Alguém confia neste governo?”, criticou.
Sem luz no fim do túnel
Ela disse que Bolsonaro e Guedes estão levando o país ao precipício e estão realizam o governo mais incompetente da história, conseguindo a proeza de combinar recessão com inflação crescente. Um pesadelo. “Guedes é incapaz de fazer uma só proposta que permita estimular a economia e proteger a população do aumento de preços de alimentos”, atacou Gleisi.
O deputado Rogério Correia (PT-MG) também se mostra preocupado com os rumos do país. “Triste rotina do Brasil de Bolsonaro. Recordes negativos atrás de recordes negativos. Economia está um caos, e pode preparar que a dupla Bozo e Guedes vem aí com um saco de maldades depois das eleições”, alertou, comentando os resultados. Ambos afirmam que a saída para a retomada da economia é o fim do teto dos gastos, inaugurado em 2016 com Michel Temer e mantido pela equipe econômica de Bolsonaro, submisso aos desejos do mercado dinanceiro. A Emenda Constitucional 95 impede investimentos públicos e gastos em saúde e educação.
O PT apresentou em setembro o Plano de Reconstrução e Transformação que não apenas revoga a regra do teto de gastos como propõe como sugere uma nova política fiscal, gradual e segura, que leve em conta o bem-estar da população nos próximos dois anos. A manutenção da atual política fiscal vai comprometer o futuro do país, porque impede aumento de despesas em áreas vitais, como saúde e educação, até 2036.
No Senado, o líder Rogério Carvalho (PT-SE), apresentou com a bancada do PT e mais 25 assinaturas de outros senadores a Proposta de Emenda Constitucional 36/2020, que cria uma regra de transição de regime fiscal em 2023, com novas regras de gastos plurianuais, de quatro em quatro anos, estabelecendo metas por setor, garantindo financiamento dos serviços essenciais e investimentos e ao mesmo tempo apontando pra sustentabilidade fiscal.
Inflação assustadora
O resultado do IPCA mostra o fracasso do governo. Os preços dos alimentos e bebidas tiveram a maior alta – 2,24% – entre os produtos pesquisados e também o maior impacto positivo (0,45 ponto porcentual) no índice oficial. Os alimentos para consumo no domicílio passaram de uma alta de 1,96% em setembro para 2,95% em outubro.
O item de maior peso foram as carnes, com aumento de 4,83%, contribuindo com 0,13 ponto porcentual no índice. Foi a quinta alta seguida das carnes no IPCA-15, segundo o o IBGE. Destacam-se ainda altas do óleo de soja (22,34%), arroz (18,48%), tomate (14,25%) e leite longa vida (4,26%).
No acumulado em 12 meses, o IPCA-15 avança 3,52%, abaixo da meta de inflação perseguida pelo Banco Central para 2020, de 4% — a meta tem tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. No ano, o IPCA-15 acumula avanço de 2,31%.
Apesar do resultado preocupante, houve no mercado financeiro quem passasse pano pro governo e diga que a situação não é tão grave. Em entrevista ao Estadão, o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, disse que o resultado do IPCA causa preocupação. “Existe hoje um sentimento inflacionário, mas nem o mais pessimista projeta inflação alta tão cedo”, declarou.
Da Redação, com agências de notícias