Tico sobre possĂvel ação de Michelle: "Ela tem que cobrar do Bolsonaro"
Tico Santa Cruz e Michelle Bolsonaro Imagem: Reprodução
Irritada com as crĂticas que recebe desde que veio a pĂșblico o depĂłsito de R$ 89 mil que o ex-assessor de FlĂĄvio Bolsonaro, FabrĂcio Queiroz e a mulher, MĂĄrcia, fizeram em sua conta, a primeira-dama Michelle Bolsonaro quer ir para cima daqueles que considera detratores.
Um dos alvos, segundo reportagem da revista Veja, Ă© a banda Detonautas, que lançou a mĂșsica "Micheque".
đŁ - MICHEQUE DEU TIRO NO PĂ AO AMEAĂAR PROCESSAR DETONAUTAS, CONFESSOU O CRIME ENTENDA, LINK DO VĂDEO; https://youtu.be/S0PLUYtRHoo
Na letra, os roqueiros cobram esclarecimentos sobre a situação: "Hey, Michelle, conta aqui para nós / A grana que entrou na sua conta é do Queiroz? / Hey, capitão, como isso aconteceu? / Levante a mão pro alto e agradeça muito a Deus".
Assessores avaliam que cabe ação judicial por calĂșnia, injĂșria e difamação e cogitam processar a banda.
LĂder do grupo e autor da mĂșsica, Tico Santa Cruz enxerga na ameaça um flerte com a censura. "Ela deveria cobrar do presidente uma explicação, para que deixe de ser o alvo, nĂŁo cobrar de quem pergunta", diz ele, nessa entrevista Ă coluna.
O roqueiro acha que essa atitude da primeira-dama Ă© contraproducente, pois chama ainda mais atenção para a mĂșsica e para o apelido:
UOL - Essa ameaça de processo é um tipo de censura?
Tico Santa Cruz - Uma coisa Ă© pegar um texto que contĂ©m calĂșnia, difamação, injĂșria, algo reprovĂĄvel, que de fato gera constrangimento, e entrar com uma ação. Outra coisa Ă© pegar uma manifestação que nĂŁo tem nenhuma dessas conotaçÔes e processar. Soa como intimidação.
Como a gente estĂĄ num paĂs democrĂĄtico, vocĂȘ tentar de alguma forma intimidar, mesmo atravĂ©s de uma ação, um artista que fez um questionamento, que fez apenas uma pergunta, que nĂŁo fez nenhuma afirmação e nem foi desrespeitoso, sinto como um flerte com uma atitude de censura, sim. Ă como se fosse um aviso.
Num paĂs democrĂĄtico, as pessoas tĂȘm o direito de questionar. Se eu estivesse afirmando que ela cometeu algum crime, tudo bem, eu entenderia. Mas nĂŁo foi o caso.
As informaçÔes sĂŁo de que a primeira-dama estĂĄ especialmente incomodada com o apelido "Micheque", que Ă© o tĂtulo da mĂșsica.
Acho que a melhor forma de se desfazer um apelido Ă© esclarecer a questĂŁo. Quando vocĂȘ esclarece algo que estĂĄ te incomodando e dĂĄ uma resposta clara, objetiva e honesta, qualquer tipo de apelido ou insinuação perde a validade.
A prĂłpria mĂșsica iria cair em descrĂ©dito, ia ter menos interesse das pessoas, se a resposta viesse a pĂșblico. Pelo que vi na matĂ©ria da Veja, o que parece Ă© que ela quer que o assunto dos cheques seja esclarecido, para que nĂŁo seja mais envolvida nisso. Eu acho que estĂĄ certa.
Ela tem que exigir que seja resolvida essa situação, para deixar de ser o foco. Mas enquanto nĂŁo se esclarece a situação, como pessoa pĂșblica, de alguma maneira, Ă© alvo de questionamento.
Nem fomos nĂłs que demos esse apelido, foi uma hashtag do Twitter. O apelido Ă© sĂł uma forma que encontraram para chamar atenção para um caso que nĂŁo estĂĄ esclarecido. Basta esclarecer e acabou. A mĂșsica vai ficar datada, ninguĂ©m mais vai querer falar sobre esse assunto e acabou.
VocĂȘ se sente intimidado com essa possibilidade de processo?
A informação Ă© que iriam agir atravĂ©s da Justiça, que Ă© o caminho de um paĂs democrĂĄtico. Diante dos fatos e da situação, estou muito tranquilo porque fui bastante cuidadoso, minha intenção foi somente levantar a pergunta.
Tanto que nĂŁo usamos nenhuma imagem da famĂlia, porque nĂŁo Ă© nossa intenção criar mĂĄcula para a imagem dela. Quem tem que resolver esse problema Ă© o presidente que, de certa forma, envolveu ela nessa situação.
A gente evitou usar imagem no nosso clipe e fazer menção até mesmo ao sobrenome, porque nossa intenção foi perguntar e não caluniar ou injuriar alguém.
Essa pergunta Ă© importante do ponto de vista do interesse pĂșblico.
NĂłs, artistas, temos como usar a mĂșsica para gerar o debate. Para a democracia Ă© importante que esse espaço continue existindo.
Estrategicamente, se eu fosse o advogado dela eu repensaria essa ideia de processar um artista, porque isso acaba jogando mais luz na situação. A questão é a seguinte: explica de onde entrou o dinheiro. Se não é algo que seja um problema, explica que entrou por esse ou aquele motivo, e acabou.
Eu nĂŁo tenho que ser processado porque perguntei.
De uma maneira geral, quanto mais uma pessoa reclama de um apelido, mais ela fica marcada.
Isso a gente aprende na escola. Quando alguĂ©m te dĂĄ uma zoada e vocĂȘ pega pilha Ă© pior.
Espero que ela consiga esclarecer. Se o problema é do presidente, ele tem a obrigação de proteger a primeira-dama e esclarecer esse problema para evitar que ela seja exposta. Ela deveria cobrar do presidente uma explicação, para que deixe de ser o alvo, e não cobrar de quem pergunta.
Fonte; Chico Alves Colunista do UOL
26/09/2020 12h24