EscrivĂŁo de polĂcia aposentado teria morrido cerca de 12 horas antes, segundo laudo
15.out.2020 Ă s 15h07Atualizado: 15.out.2020 Ă s 16h47
Alfredo Henrique
SĂO PAULO
A PolĂcia Civil de Campinas (93 km de SP) investiga uma mulher que levou um idoso morto a uma agĂȘncia bancĂĄria, para fazer prova de vida e tentar sacar a aposentadoria dele. A tentativa de fraude contra a previdĂȘncia do estado de SĂŁo Paulo ocorreu no Ășltimo dia 2. A mulher havia levado o cadĂĄver em uma cadeira de rodas.
Um laudo, concluĂdo e entregue Ă PolĂcia Civil nesta quinta-feira (15), indica que o idoso, um escrivĂŁo de polĂcia aposentado de 92 anos, tinha morrido cerca de 12 horas antes de seu corpo ser levado pela mulher, de 58 anos, atĂ© uma agĂȘncia do Banco do Brasil, na regiĂŁo central da cidade. Ela era companheira do aposentado e foi ao banco acompanhada por um casal de vizinhos.
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"A causa da morte foi natural, mas vamos indiciar a companheira do idoso por estelionato e vilipĂȘndio de cadĂĄver [desprezar ou humilhar corpo]", explicou ao Agora o delegado CĂŹcero SimĂ”es da Costa, do 1Âș DP de Campinas.
Fachada da agĂȘncia do Banco do Brasil em Campinas (SP) onde uma mulher levou um idoso morto para sacar a aposentadoria dele; polĂcia civil investiga o caso - Luciano Claudino/CĂłdigo 19/AgĂȘncia O Globo
Em decorrĂȘncia da conclusĂŁo do laudo, acrescentou o policial, funcionĂĄrios do banco, a ex-companheira do idoso, alĂ©m dos vizinhos que a acompanharam, serĂŁo ouvidos novamente em depoimento.
No Ășltimo dia 2, guardas-civis de Campinas foram acionados para irem a agĂȘncia do Banco do Brasil, pois no local o escrivĂŁo de polĂcia aposentado "estaria passando mal."
Ao chegar na agĂȘncia, segundo relatado pelos guardas Ă polĂcia, uma equipe de bombeiros civis jĂĄ atendia o idoso, que chegou ao local, por volta das 10h, em uma cadeira de rodas, empurrada pela mulher de 58 anos, que se identificou como companheira dele, e afirmou estar desempregada.
Em seguida, ainda de acordo com os GCMs, uma equipe do Samu (Serviço de Atendimento MĂłvel de UrgĂȘncia), tambĂ©m chegou Ă agĂȘncia e socorreu Ă vĂtima. Um dos socorristas levantou dĂșvidas sobre a morte do policial aposentado.
A mulher que acompanhava o escrivĂŁo aposentado afirmou Ă polĂcia manter uma uniĂŁo estĂĄvel com ele, hĂĄ cerca de dez anos. Ela teria dito aos guardas, segundo registrado pelo 1Âș DP, que levou o companheiro ao banco porque ela movimentava as contas do idoso. PorĂ©m, a desempregada alegou ter perdido a senha de letras do companheiro, com a qual receberia a aposentadoria -- cujo valor nĂŁo foi informado, e por isso teria que fazer a prova de vida.
ContradiçÔes
Apesar das alegaçÔes, a mulher nĂŁo apresentou nenhuma procuração que a autorizava a movimentar as contas do idoso. Ela tambĂ©m, segundo a polĂcia, entrou em contradição ao afirmar duas histĂłrias sobre a Ășltima vez em que falou com o entĂŁo companheiro.
Em uma delas, garantiu ter falado com o idoso, na manhĂŁ em que o levou ao banco. “PorĂ©m em outro momento, questionada pelos guardas de quando teria conversado com [o escrivĂŁo aposentado] pela Ășltima vez, afirmou que havia falado com seu companheiro na data de ontem [1Âș de outubro]", afirma trecho de boletim de ocorrĂȘncia.
Ao chegar na agĂȘncia, a desempregada teria tentado ser atendida rapidamente, passando a afirmar que o idoso estava passando mal, fazendo com que testemunhas acionassem o Samu.
Por causa das duas versĂ”es contadas pela mulher, alĂ©m da suspeita de o idoso ter sido levado jĂĄ morto ao banco, situação confirmada nesta quinta por meio de laudo, os GCMs decidiram apresentar o caso no 1Âș DP de Campinas. O Agora tentou entrar em contato com a desempregada, mas nĂŁo havia conseguido atĂ© a publicação desta reportagem.
1- Depois de fazer o login no Meu INSS, se vocĂȘ foi selecionado, aparecerĂĄ a nova opção; clique no Ăcone "Prova de Vida", Ă esquerda, ou na notificação que aparece na parte de cima da tela. Divulgação/INSS
2- Depois, clique no botĂŁo "Iniciar Prova de Vida"; aparecerĂĄ a mensagem de que o sistema aguarda a validação facial; vocĂȘ precisarĂĄ, entĂŁo, abrir o aplicativo Governo Digital (Meu gov.br). Divulgação/INSS
Resposta
A Spprev (SĂŁo Paulo PrevidĂȘncia), da gestĂŁo JoĂŁo Doria (PSDB), afirmou contar com um nĂșcleo de investigaçÔes previdenciĂĄrias com o qual detecta e investiga casos de supostas fraudes previdenciĂĄrias. "Todos os pensionistas e aposentados civis e militares devem manter seu cadastro atualizado para continuar recebendo os benefĂcios", diz trecho de nota.
O ĂłrgĂŁo acrescentou que o recadastramento deve ser feito, obrigatoriamente, pelo prĂłprio pensionista e aposentado civil e militar, uma vez ao ano, em seu mĂȘs de aniversĂĄrio. A prova de vida por ser feita em qualquer agĂȘncia do Banco o Brasil, ou em alguma agĂȘncia presencial da Spprev. "No caso de pensionistas universitĂĄrios, o recadastramento deverĂĄ ser realizado semestralmente, nos meses de janeiro e julho", explicou.
Sobre o caso mencionado nesta reportagem, o ĂłrgĂŁo afirmou que o benefĂcio "foi suspenso e serĂĄ extinto."
O Banco do Brasil afirmou usar recursos como identificação do cliente, por meio de senhas, alĂ©m de cartĂŁo e biometria para "mitigar o risco de fraudes nos pagamentos de benefĂcios previdenciĂĄrios". "O BB esclarece ainda que cumpriu com todos os protocolos no caso da ocorrĂȘncia registrada em uma de suas agĂȘncias em Campinas, o que inclui a apresentação de procuração ou a presença do beneficiĂĄrio na agĂȘncia", afirma o banco em nota.
Fonte; "FOLHA UOL"